"Não pretendo dizer quem fui nem que nome eu tive. De nada adiantará qualquer tentativa de apresentação, já que sou imaterial, não tenho mais o fôlego da vida, não existo mais. Morri há um mês, três dias e seis horas e desde então venho inexistindo, no vácuo que há entre aqueles com quem convivi de perto por pouco mais de 45 anos. [...] Contudo, para mim o tempo não mais se conta, porque não sou um ser vivo, sou apenas um sopro energizado e ninguém é capaz de me ver ou de me sentir, embora eu consiga ver a todos com quem convivi quando eu era matéria e tinha um corpo. Posso assistir à continuidade da existência de cada um como se eu ainda estivesse entre eles e, na verdade, pelo menos para mim, eu continuo a estar no meio deles, apesar de não coexistir e eles não serem capazes de me ver ou de perceber minha presença."
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